Com o fim da pandemia à vista e o retorno aos desfiles físicos, as Semanas de Moda foram interrompidas pela guerra na Ucrânia, pondo fim a qualquer ambiente festivo. Concebidas para marcar a volta aos negócios e à normalidade, agora carregada de novas incertezas, as coleções para o outono-inverno 2022/23 foram claramente divididas entre um guarda-roupa confortável e prático, com destaque para os ternos, alfaiataria e os casacos grandes e envolventes, e uma gama muito mais festiva e sexy, cheia de cor, exacerbando uma feminilidade que permaneceu "enclausurada" por dois anos, como pôde ser visto nas passarelas de Nova York, Londres, Milão e Paris, de 11 de fevereiro a 8 de março de 2022.
POWER SHAPE
Ao contrário das silhuetas oversized que vinha dominando as temporadas de moda já há alguns anos, o que vemos agora é um novo Power Shape, que vem se desenhando desde o masculino. A nova silhueta power tem ombros largos, muitas vezes com ombreiras, e uma cintura marcada.
STELLA MCCARTNEY, HERMÈS, SAINT LAURENT, DION LEE, DIESEL, AMBUSH, PRADA, BALMAIN
SHEARLING
Peles e pelos são constantes nas coleções de inverno, mas nessa temporada, saltaram aos olhos a quantidade de peças com shearling, pelo curto de ovelha ou cordeiro, fake ou não. O shearling apareceu principalmente nos contornos das lapelas e bolsos da jaquetas aviadoras e sobretudos.
MARINE SÉRRE, MIU MIU, LOUIS VUITTON, OFF-WHITE, AMBUSH, CHANEL, STELLA MCCARTNEY, PRADA
MANY SHADES OF PINK
Think Pink! O rosa sempre foi uma cor muito marcante na moda, escolha preferencial de Elsa Schiaparelli durante seu auge, nessa temporada a cor volta com força total em diversos tons de pink. Com destaque para o desfile da Valentino, quase todo em rosa, e o da Chanel, onde a cor também foi protagonista.
VALENTINO, GCDS, PRADA, VERSACE, BOTTER, DIESEL, STELLA MCCARTNEY, CHANEL
FUTURE IS NOW
O futuro é agora. À medida que chegamos mais perto do imaginário social do futuro: robôs, viagens interplanetárias – e desastres ambientais – os designers de moda têm refletido sobre suas perspectivas sobre o futuro e os próximos anos, de forma estética e conceitual, alguns com uma visão mais otimista sobre o que nos espera e outros mais pessimistas.
LOUIS VUITTON, DIOR, PRADA, DION LEE, BALMAIN, CELINE
PLAY THE GAME
Se o streetwear perdeu seu local de destaque nas passarelas do alto-luxo, o esporte começou a ganhar lugar. Seja o hipismo, tradicional das grandes casas parisienses ou outros esportes símbolo do “Old Money”, as roupas esportivas apareceram reimaginadas em diversas passarelas da temporada de moda.
CRAIG GREEN, ROKSANDA, DIOR, BALMAIN, MIU MIU, DAVID KOMA, GUCCI, OFF-WHITE
LEATHER PANTS
O couro foi, sem dúvidas, um dos tecidos que predominaram nessa temporada. Em uma temporada de inverno, é natural vermos mais looks de couro, sejam casacos, sobretudos ou produções completas. Mas nesse Inverno 23, o que chamou atenção foram as diversas calças de couro desfiladas, que prometem ser um hit neste ano.
OFF-WHITE, LOUIS VUITTON, MARINE SERRE, AMBUSH, DIESEL, LUDOVIC DE SAINT SERNIN, COURRÈGES, BOTTEGA VENETA
CORSETS
O corset, tendência que começou a ganhar força 2021, alavancada pelo TikTok, agora marcou forte presença nas semanas de moda. A peça aparece tanto como uma peça de roupa independente, quanto sobreposta a camisetas e casacos, como incorporadas a outras peças, como jaquetas e camisas de botão, como uma forma de demarcar a cintura e dar estrutura ao look.
FENDI, LAQUAN SMITH, DION LEE, DIOR, GUCCI, VERSACE, BALMAIN, MÔNOT
ROUPAS COMO ARMADURA
Uma das iniciais funções da indumentária sempre foi a proteção: do frio e das intempéries climáticas. Desde o início da pandemia, essa função tem sido revista, com roupas infláveis, que “incentivavam” o distanciamento social, agora, essa função de proteção e armadura volta de forma mais literal, com peças que lembram bem claramente roupas de batalha, medievais e militares.
OFF-WHITE, DIOR, RICK OWENS, BALMAIN, DION LEE, JIL SANDER, DIESEL
TRANSPARÊNCIA
Mesmo no inverno, as transparências reinaram nas passarelas, flertando ao mesmo tempo com o sexy e a inocência, de forma tanto ousada quanto romântica. As transparências apareceram das mais diversas formas: desde as peças em impressão 3D da Loewe, quanto vestidos em tule e, principalmente, nas rendas, em peças que se assemelhavam a lingeries e que também se mostraram fortes nessa temporada.
VALENTINO, FENDI, GIVENCHY, CGDS, PRADA, LOEWE, MIU MIU, COPERNI
BOTAS OVER-THE-KNEE
Não faltaram sapatos ousados nesta temporada, mas um calçado que marcou presença em quase todas as passarelas foi a Bota acima do joelho, ou Over-The-Knee. O modelo foi adaptado para diversas tendências e para o estilo de cada marca, como as galochas over-the-knee para a Chanel, mas se depender da temporada de Inverno 22, elas são grandes apostas para este ano.
CHANEL, GIVENCHY, DIESEL, BALMAIN, COURRÈGES, BOTTEGA VENETA, ISABEL MARANT, TRUSSARDI
VERMELHO
Glória Groove já havia avisado com o single de grande sucesso Vermelho, e na moda a cor também ganhou destaque. Historicamente conectada ao poder, sensualidade e perigo, o vermelho volta com todos esses contornos para diversas passarelas nessa temporada de Inverno 22.
alfaiataria
Há várias temporadas, as roupas esportivas estão em declínio nos guarda-roupas femininos. A tendência se acentua à medida que emergimos da pandemia. Após dois anos de loungewear forçado diante do confinamento, as mulheres querem sentir que estão bem vestidas. Uma sensação marcada pela volta do vestuário estruturado. Ternos, jaquetas e casacos grandes, cortados em tweeds e lãs finas e masculinas são onipresentes. Especialmente em volumes soltos e confortáveis, mas ao mesmo tempo elegantes.
MINISSAIA MEIAS DE LÃ
MEIAS DE lã
BOTAS OVER THE KNEES
Chanel homenageia seu tweed clássico em coleção de inverno 2022/23
Originalmente feito de lã produzido na Escócia e derivado da palavra escocesa tweel, que significa “tecido cruzado”, o tweed também tem sua origem ligada ao rio Tweed, que flui entre a Inglaterra e a Escócia. Gabrielle Chanel foi a primeira estilista a olhar para esse tecido com outros olhos, já na década de 1920, para a Chanel.
Primeiro por influência do duque de Westminster, mas, principalmente, por sua capacidade criativa de ver além. “Fui eu quem ensinou os escoceses a fazer tweeds mais leves”, afirmou ela em certa ocasião.
E o tecido, que hoje pode surgir como o resultado da mistura também de outros fios, virou um dos signos icônicos da marca. É por isso que Virginie Viard diz que “dedicar toda a coleção ao tweed é uma homenagem”, sobre a coleção desfilada hoje. Do casaco clássico que abriu o desfile ao terno com trama laminada no final do show, há uma celebração também da liberdade que vem junto com as peças feitas com o tecido.
Há, ainda, jaquetas em cores psicodélicas, outras sutilmente masculinas ou levemente oversized. A cartela de cores também dialoga com os primeiros tingimentos, inspirados nos buquês de flores que Coco trazia de suas caminhadas ao longo do rio e que serviam de referência para os artesãos. Para finalizar, scarpins pontiagudos com mini salto agulha em couro envernizado ou lã bouclette, além de thigh-high boots em borracha, inspiradas na Inglaterra dos anos 1960. “E também nas capas de discos muito coloridas”, acrescenta Virginie. O resultado traz uma jovialidade cool e libertadora.
Stella McCartney se junta ao artista plástico Frank Stella para coleção de inverno 2022/23
Para a temporada mais fria do ano, Stella McCartney apresentou uma coleção feita através de quatro mãos
Quantas Stellas você quer em um desfile só? Desta vez, temos duas: Stella McCartney marcou toda sua coleção em collab com o célebre artista plástico Frank Stella. Nascido em Massachussets, Stella tem um trabalho vasto que vai de grandes esculturas recentes a grafismos abstracionistas nos anos 1970 — que é de onde Stella pinçou suas ideias, trabalhando a quatro mãos (e, diz ela, com aprovações e reprovações por conta do homenageado).
Muito de uma paleta em comum dos dois aparece em jumpsuits utilitários ou feitos em tricôs canelados. Mas é das aplicações mais claras — especialmente de obras de Frank dos anos 1980 — que vêm os melhores momentos: a alfaiaria em lã, que mescla listras e cores complementares, os splashes de tintas em estamparia e as telas ultracoloridas reproduzidas ipsis litteris em vestidos.
Uma coleção que vai agradar às fãs da marca enquanto deixa McCartney livre para trabalhar suas novas obsessões em materiais: principalmente o couro feito de cogumelos, que dá em uma nova bolsa, e outro tipo de desenvolvimento que reaproveita bagaços de uvas.
Chegamos ao fim do mês da moda e esse foi um resumo dos mais de 200 desfiles, ainda longe do número de passarelas pré-pandemia, mas suficiente para muitas imagens marcantes e tendências que você vai usar daqui a seis meses. Esperamos que vocês aproveitem as importantes tendências vistas nas passarelas de Nova Iorque, Londres, Milão e Paris.