Para o professor, duas questões sobre o tema exigem atenção: “A primeira diz respeito à retirada da Rússia do sistema de pagamento internacional SWIFT, um acordo interbancário com instituições de praticamente todos os países do mundo, que possibilita o fluxo de dinheiro. De forma resumida, seria um ‘PIX’ entre países. A retirada da Rússia desse sistema impossibilita o recebimento de pagamentos de contratos a empresas fornecedoras russas, e, portanto, impossibilita o fornecimento de matérias-primas para todas as indústrias”.
Já o segundo aspecto diz respeito à logística internacional. “As sanções têm gerado um ambiente de blackout de frete para e pela Rússia. Dessa forma, empresas e armadores responsáveis por realizar o processo de trânsito de navios pelo mundo estão simplesmente retirando o país de seu catálogo de operações. Assim, o trânsito de matéria-prima e de produtos fica comprometido, inclusive na indústria da moda”, explica Lucas Portela.
Marcas se pronunciam
Grandes marcas de luxo suspenderam atividades na Rússia. Na lista, estão nomes como Hermès, Chanel e Burberry. Os grupos Kering, que detém etiquetas como Gucci e Balenciaga, e conglomerado LVMH, dono da Dior e Louis Vuitton, também interromperam operações no local, em meio a pedidos de consumidores.
Além disso, o grupo Kering informou em suas redes sociais que faria uma doação para o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mas não especificou o valor. O LVMH soltou uma nota mais detalhada explicitando a preocupação com 150 funcionários que residiam na Ucrânia e que tomaria as medidas possíveis para garantir a segurança deles. Anunciaram, também sem discriminar a quantia, uma doação ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
A marca dinamarquesa Pandora, uma das maiores joalheiras do mundo, fez uma doação de US$ 1 milhão para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Alexander Lacik, CEO da empresa, levou a ação para o lado pessoal porque, ainda criança, teve que fugir quando a União Soviética ocupou a Tchecoslováquia em 1968. “É com choque e descrença que estou testemunhando a história se repetir”, disse.
O grupo de fast fashion H&M também escolheu o órgão da ONU para a contribuição e informou que “decidiu pausar temporariamente todas as vendas na Rússia” . As lojas na Ucrânia foram temporariamente fechadas, para garantir a segurança dos funcionários e clientes. Porém, essa ação pode pesar no bolso da empresa, uma vez que a Rússia é seu sexto maior mercado. A H&M possui 168 lojas espalhadas pelo país e, apenas no último trimestre de 2022, arrecadou algo em torno de US$ 216,6 milhões.
Já uma marca italiana enfrenta um cenário totalmente diferente. Segundo a Bloomberg, a joalheria Bulgari assiste a um aumento das vendas. Com os mercados fechados e a desvalorização da moeda, “os ricos do país estão se voltando para joias e relógios de luxo em uma tentativa de preservar o valor de suas economias”.
Em entrevista à agência norte-americana, Jean-Christophe Babin, CEO da Bulgari, afirmou que é impossível saber quanto tempo essa onda vai durar, uma vez que medidas como o SWIFT pode dificultar o acesso dessa elite ao próprio patrimônio.

A francesa Louis Vuitton também anunciou que fará doações para o programa da Unicef

A Chanel também emitiu nota oficial se colocando a favor do povo ucraniano e informando que doará 2 milhões de euros a organizações que atuarão com os refugiados.

A Vogue Rússia divulgou, na última semana, uma capa da revista 1945 pedindo por paz. Vale lembrar que a publicação é uma licença do grupo nova-iorquino Condé Nast.

Protestos nas fashion weeks
A Semana de Moda de Milão, que aconteceu entre os dias 23 e 28 de fevereiro, foi palco não apenas de desfiles, mas de algumas manifestações – mesmo que tímidas – a favor dos ucranianos. A modelo Valera Komarova, por exemplo, chegou a uma apresentação com um cartaz que dizia “sem guerra na Ucrânia”.
A influenciadora de moda Alina Frendiy também se manifestou. Ela está ativa não apenas em suas redes sociais, mas também participou de protestos e pediu que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) bloqueie o espaço aéreo do país contra a Rússia.
Modelos, influenciadores e marcas de moda se mostraram solidários à Ucrânia.
Bandeiras da Ucrânia tem sido vista em protestos e filas de
desfile.
A influenciadora ucraniana Alina Frendiy em protesto com cartaz pedindo a interferência da OTAN na invasão da Rússia a seu país.
Medidas de outras indústrias